Morre Luiz Schiavon, tecladista e fundador da banda RPM, aos 64 anos

Written by on 15 de junho de 2023

Na madrugada desta quinta-feira (15), o rock brasileiro sofreu uma perda significativa com o falecimento de Luiz Schiavon, tecladista e um dos membros fundadores da banda RPM ao lado de Paulo Ricardo. A família do músico confirmou a triste notícia. Schiavon tinha 64 anos.

De acordo com um comunicado oficial, Schiavon estava lutando bravamente contra uma doença autoimune nos últimos quatro anos. Infelizmente, ele enfrentou complicações durante sua última cirurgia de tratamento e não conseguiu se recuperar. Luiz era conhecido como maestro, compositor, fundador e tecladista do RPM em sua vida pública, mas acima de tudo, ele era um bom filho, sobrinho, marido, pai e amigo. Em razão disso, a família decidiu que a cerimônia de despedida será reservada apenas para familiares e amigos próximos. Eles fazem um pedido encarecido para que os fãs e a imprensa compreendam e respeitem essa decisão. A família espera que as pessoas se lembrem de Luiz por sua maestria e pela energia de sua música, um legado que ele deixou como presente e que continuará vivo em seus corações. Eles sugerem que os fãs se despeçam ouvindo seus acordes, prestando homenagens nas redes sociais, revistas e jornais, ou simplesmente se recordando dele com carinho, da mesma forma amorosa com que ele sempre tratou todos aqueles que conviveram com ele.

RPM e os anos 1980

Com o cantor Paulo Ricardo, Schiavon fundou o RPM em 1982. Como pianista clássico, Luiz utilizou seu conhecimento musical para definir o som da banda, que era fortemente influenciado por sintetizadores, seguindo o exemplo de bandas inglesas da mesma época, como Duran Duran e Depeche Mode.

Os dois músicos começaram a compor juntos, buscando seguir as tendências do pop/rock inglês, com elementos de tecnopop, synthpop e new wave. Juntos, eles criaram as primeiras canções da banda, que inicialmente era um duo, e produziram faixas como “Rádio Pirata”, “Louras Geladas”, “Revoluções por Minuto” e “Olhar 43”, caracterizadas pelo uso proeminente de teclados, sintetizadores e bateria eletrônica.

Logo, Paulo e Luiz perceberam a necessidade de adicionar um guitarrista à formação e convidaram Fernando Deluqui para a missão. Demo tapes com as canções começaram a circular entre as gravadoras, que estavam ansiosas por bandas de rock, um gênero que estava ganhando destaque no Brasil nos anos 1980. Rapidamente, o RPM se tornou objeto de disputa entre empresas como CBS e EMI. Após negociações, Luiz e Paulo optaram pela proposta da CBS e gravaram o primeiro álbum, “Revoluções por Minuto”, lançado em 1984 nos estúdios da Transamérica, em São Paulo. Pouco antes do lançamento, eles também adicionaram o baterista Paulo Pagni, conhecido como P.A., completando a formação original do RPM.

O primeiro single, “Louras Geladas”, começou a tocar intensamente nas rádios de São Paulo e rapidamente se espalhou para outras cidades do Brasil. Logo surgiram outros sucessos, como “Rádio Pirata”, “Revoluções por Minuto”, “Olhar 43” e “A Cruz e a Espada”, todos marcados pela voz de Paulo e pelos poderosos teclados de Schiavon, o que tornou o RPM uma banda de rock distinta das demais no cenário brasileiro.

O álbum de estreia vendeu muito acima das expectativas. O RPM embarcou em uma extensa turnê pelo Brasil, realizando centenas de shows lotados, aparecendo em programas de TV e tocando incessantemente nas rádios. O grupo se tornou uma verdadeira febre e alcançou sucesso sem precedentes no país.

Em 1986, lançaram “Rádio Pirata – Ao Vivo”, um álbum que apresentava os sucessos do disco de estreia, além de algumas músicas inéditas. O álbum vendeu enormemente, ultrapassando a marca de 2,5 milhões de cópias, estabelecendo um recorde.

No entanto, os músicos, ainda jovens na época e sem a experiência necessária, não conseguiram lidar com o sucesso e a pressão. Devido a desentendimentos internos, o RPM anunciou o fim de suas atividades no início de 1987. Paulo e Luiz seguiram como uma dupla, mas sem usar o nome da banda. Rapidamente, a CBS convenceu os quatro rapazes a retornar com o RPM, que já era um sucesso incontestável.

No retorno, a banda gravou e lançou um disco autointitulado, conhecido como “Quatro Coiotes”, lançado em 1988. No entanto, com um som diferente do álbum de estreia, com menos destaque para os teclados, o trabalho não agradou muito aos fãs e teve baixas vendas. O fracasso resultou novamente no fim do grupo, com os integrantes seguindo carreiras solo

Voltas do RPM

Após o fim do RPM, Luiz formou uma nova banda chamada Projeto S, na qual continuou a explorar teclados, pianos e sintetizadores. No entanto, o projeto não obteve muito sucesso e logo chegou ao fim. Luiz então passou a se dedicar a outros trabalhos musicais e empreendimentos pessoais, compondo trilhas sonoras para novelas, produzindo jingles publicitários e envolvendo-se em diversas atividades.

Em 1992, Paulo Ricardo decidiu ressuscitar o RPM ao lado de Deluqui. Schiavon não aprovou a ideia e entrou com um processo para impedir seu ex-companheiro de usar o nome da banda. Paulo encontrou uma solução lançando o “Paulo Ricardo & RPM”, um disco com esse nome, mas a iniciativa teve vida curta.

Uma década depois, em 2002, todos os músicos decidiram trazer o RPM de volta à vida. Gravaram um álbum ao vivo, o “MTV RPM 2002”, que incluía todos os sucessos antigos e algumas músicas novas. O álbum teve boas vendas e a banda embarcou em uma turnê pelo Brasil. Entretanto, em 2004, durante os preparativos para lançar um álbum de inéditas, ocorreu outro rompimento entre os integrantes, resultando novamente no fim do grupo.

Após isso, Luiz juntou-se a Deluqui e ao cantor André Lazzarotto para formar a banda L.S.D. (iniciais de seus nomes). Eles gravaram um CD independente, mas o projeto teve pouca repercussão. Além disso, Luiz passou a liderar a banda que se apresentava ao vivo no programa do Faustão, na Globo.

Cada um dos integrantes do grupo seguiu seu próprio caminho e carreira solo, mas em 2010 decidiram tentar mais uma vez com o RPM. Em 2011, lançaram o álbum “Elektra”, com músicas novas. Realizaram uma longa turnê de quatro anos, e quando ela chegou ao fim, Paulo Ricardo prometeu retornar à banda após lançar um disco solo, o que acabou não acontecendo.

Luiz, Deluqui e P.A. decidiram manter o RPM ativo e processaram Paulo, retirando-o da banda. Logo em seguida, em 2019, o baterista P.A. faleceu devido a problemas respiratórios. Os músicos remanescentes gravaram novas músicas durante a pandemia, e há a promessa de lançamento de um álbum do grupo para este ano. Luiz participou das gravações antes de seu falecimento.

O RPM tem realizado alguns shows desde o fim da pandemia, porém, devido a problemas de saúde, Luiz teve poucas participações. Sua última apresentação com o grupo ocorreu em 22 de novembro de 2022, na cidade de São Carlos (SP). Atualmente, há um tecladista substituindo Schiavon.

Existem, portanto, materiais inéditos gravados por Luiz que serão lançados no futuro. Esse é um importante legado que o músico deixa para o rock e a música brasileira.

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